quinta-feira, 28 de abril de 2022

SOBRE ESPIRITUALIDADE

    Seus avós nunca foram muito rigorosos com relação à religião. Eram católicos mas nunca iam à Igreja ou coisa parecida. Sua avó Cely era devota de Nossa Senhora Aparecida e costumava se apegar à ela em momentos difíceis. Por ser solta assim, nunca nos obrigou ou sequer cobrou que fossemos assíduos à compromissos religiosos. E dessa forma eu cresci, mas sempre acreditando nessa força Divina poderosa que me mostra como somos pequenos diante da Sua grandeza. Acabamos seguindo os mandamentos mais por uma questão moral do que religiosa.
    Quando vocês nasceu eu comecei a sentir uma necessidade de retormar essa conexão com Deus de uma forma mais próxima, não frequentando, mas inserindo mais a Sua presença nas nossas vidas, no nosso dia a dia. Eu acredito que Ele está em qualquer lugar, basta fechar os olhos e pedir com o coração que Ele estará lá, não só nos momentos de afição, mas de gratidão também. Queria abrir as portas da nossa casa para Ele entrar.
      Com isso, e também com outras coisas que aconteceram comigo, comecei a seguir os caminhos da Doutrina Espírita. E aos poucos você começou a participar também.
      Iniciamos com a prática do Evangelho no Lar, como uma forma de literalmente abrir as portas da nossa casa para Deus e os ensinamentos de Jesus. São basicamente encontros semanais, sempre no mesmo horário e dia onde estudamos o Evangelho, conversamos e encerramos com orações. No começo você relutava, ficava de cara feia e má vontade. Mesmo assim eu e seu pai persistíamos, sem te forçar a nada. Algumas semanas depois você já estava nos emocionando com a sua capacidade de assimilação das histórias e aplicação na sua realidade, no seu dia a dia, sempre começando a sua "palestrinha" com o indefectível "tipo assim..."
      Depois de um certo tempo, com a chegada da pandemia, a Evangelização Infantil que sua Dinda - que também é Espírita - fazia presencialmente na casa que ela frenquenta passaram a ser on line e, por isso, você foi convidada a participar. Aceitamos com alegria, que maravilha você aprender ainda mais, de forma leve e lúdica e podendo interagir com outras crianças. Mas, para não ser diferente, o começo também foi desafiador: Você estava desconfiada e relutante, mas assim como o Evangelho no Lar, você logo se adaptou, chegando ao ponto  de precisar pedir para você ficar quieta para dar oportunidade para os outros falarem também. Soltou diversas pérolas, algumas que quase me mataram de vergonha, cantou as músicas da sua Cantata, pediu para fazer a oração de encerramento e, o que parecia uma brincadeira, ficou como aprendizado. Posso afirmar com certeza, ao ver você fazer perguntas do tipo: "No Plano Espiritual tem comida?", "Eu vou conseguir me encontrar com o vovô Zé?" e a coisa mais fofa que você já me disse: "Quando eu vier novamente - sua maneira de falar sobre reencarnação - quero voltar sua filha de novo".
        Não tenho dúvidas que uma só vida é pouco para viver com você, pessoinha iluminada! Tenho certeza que estamos conectadas de alguma forma por toda eternidade.
        Amo seu jeitinho de agradecer a Deus por tudo o que tem e até sua maneira de recorrer à Ele nos momentos de aflição.
      Um exemplo disso aconteceu há três dias quando seu pai se acidentou na lavanderia de casa e veio com muita dor pedir ajuda, estávamos na cozinha. Na hora do desespero eu acudi-lo , eu só sabia pedir calma, pois sabia o quanto você ficava desesperada. Me lembro bem como você ficou quando eu quebrei meu dedinho do pé.
       Mas ontem, por curiosidade e tentando entender como seu pai se machucou, fui resgatar as imagens das câmeras do quintal de casa e, fui surpreendida com uma cena que me fez chorar: Ao ver seu pai se contorcendo de dor, você e seus olhinhos aflitos, juntou as mãozinhas e começou a rezar o Pai Nosso, até não ver outra saída senão se ajoelhar no chão pedindo misericórdia ao seu paizinho.
     Aquilo encheu meu coração de orgulho e mais uma vez a certeza de que estamos te encaminhando no caminho do bem.
      Felizmente, por conta da situação atual da Pandemia, a Evangelização Infantil que você estava fazendo on line passará a ser novamente presencial. A parte triste é que você não poderá participar, já que estamos a quase 2 mil quilômetros de distância rsrs. Vamos sentir falta - eu também - dos encontros aos sábados de manhã, das "tias" tão atenciosas e competentes que foram como um poderoso adubo na sementinha que plantamos em você pouco tempo antes: o AMOR A DEUS. Sempre serei grata à vocês por esses ensinamentos, e, com certeza, de alguma forma me comprometo a dar continuidade nesse trabalho lindo que realizaram nesses 2 anos.
       E você, filha, continue colocando em prática tudo o que tem aprendido, desse jeitinho que está fazendo, com humildade e leveza. Eu e o papai estamos logo atrás de você, cheios de alegria, te vendo crescer fisica e espiritualmente.
      E não poderia deixar de fazer um agradecimento especial à sua Dinda, que nos presenteou com esse convite. Através dele também pude participar das reuniões dos Pais, que contribuiram MUITO para a minha evolução, para meu crescimento espiritual.


💓💓💓

        
 
            



sexta-feira, 15 de abril de 2022

QUANDO AS CRIANÇAS NOS ENSINAM

                 Eu sempre fui uma criança expansiva, mandona e cheia de colegas na vizinhança, meus pais não tinham paz, a campainha tocava o dia todo.

              Sou da geração que lidava de uma forma diferente com o bullyng (aliás, nem era chamado assim naquela época). A gente colocava e levava apelidos da mesma maneira que fazem hoje (alguns até cruéis), mas a nossa reação era diferente. Não quer dizer que acho que naquela época era certo ou errado, temos que levar em consideração que antes os responsáveis tinham rosto – que diversas vezes eram socados nessas horas - e não havia rede social para que tivessem “carta branca” para falarem o que quiserem e de quem quiserem, ficando impunes. Na minha época de criança, nós nos defendíamos debochando de volta, ficando de “mau” por alguns dias – até mesmo algumas horas – ou apelando pra porrada mesmo. Dificilmente nossos pais se envolviam, até porque sabiam que no dia seguinte já estaríamos brincando juntos novamente. Não que os meus não tenham interferido quando julgavam que as coisas foram além da conta, e eu até então não sabia com qual régua eles mediam para saber a hora de intervir.         

            Assim que me tornei sua mãe, uma angústia sem explicação tomou conta de mim: eu queria te proteger de toda maldade do mundo, mas sabia que muita proteção poderia te transformar em uma pessoa frágil demais, que uma hora ou outra, não teria a mãe para defender. E, aos poucos, essa tal “régua” que meus pais usavam para saber se deveriam ou não interferir foi se mostrando para mim, e eu adaptei meu método para os dias atuais. Eu acredito muito que o diálogo franco entre pais e filhos é capaz de aplacar muitas dores e preocupações. É como se nossos filhos pudessem sempre saber que eles têm o porto seguro, que não serão julgados pelas suas falhas e medos, que serão acolhidos incondicionalmente. Por isso sempre te encorajei a falar, a não guardar nenhuma angústia, medo ou sofrimento que esteja passando. Que nunca julgarei, nunca te repreenderei, sempre te orientarei, ou pelo menos tentarei ser assim, né?

          E, há alguns dias, essa sementinha que plantei começou a germinar e eu transbordei de orgulho do que estamos fazendo juntos, errando e acertando, estou certa que você está se tornando uma pessoinha que só vai me dar orgulho.

           No começo desse ano letivo, numa noite como todas as que temos, onde te coloco pra dormir, lemos um livro, conversamos um pouco e fazemos nossa oração, você começa a chorar sentida, de soluçar. Tentei manter a calma, mesmo com o coração em pedaços, e quando você se acalmou, me disse que estava muito triste porque uma coleguinha havia dito que você era feia porque usava óculos e seus dentinhos eram tortos. Ouvir aquilo me deu uma vontade enorme de levantar da cama e sair gritando “QUEM FOI QUE CHAMOU MINHA PRINCESINHA DE FEIA?”, mas mantive a elegância, apesar de estar borbulhando por dentro. De imediato eu te acolhi, falei que as crianças faziam aquilo mesmo, que eram maldosas sem saber do que aquilo podia fazer e, que na verdade, só queriam te deixar irritada. Minha primeira reação foi te dizer pra se cercar dos seus coleguinhas que te fazem se sentir feliz e que jamais faça isso com seus coleguinhas, porque você mesma já estava vendo o quanto aquilo te deixava triste.

      Mas.... meu instinto de mãe ursa não sossegou e fui dormir remoendo aquele choro sentido, com o coração em pedaços. No dia seguinte, chegando na escola, como sempre faço, fui falar com a professora e discretamente falei sobre o ocorrido e do quanto você havia ficado chateada. Ela me disse que se tratava de uma colega que vinha dando trabalho com outras crianças e a situação com os pais estava meio complicada, que não davam muito ouvido para as reclamações. Comentei também que você estava meio chateada porque suas coleguinhas inseparáveis não tinham conseguido vaga à tarde, e só se encontravam no almoço, para, no período seguinte irem para caminhos opostos. Dito isto, a professora sugeriu que você mudasse então para o período matutino e alterasse para o período da tarde suas atividades extracurriculares. Topei na hora e rapidamente revertemos isso. No dia seguinte você já estava nessa nova turma e, ao te pegar na escola naquele dia, seus olhinhos brilhavam quando me disse “obrigada, mãe”. Mas, expliquei para você que não era sempre que eu iria conseguir resolver os seus problemas e que teríamos que enfrentar juntas quando fosse o caso. Você compreendeu e fez isso de uma maneira surpreendente. Pouco tempo depois, como sempre fazemos, no carro de volta para casa, você já ia tagarelando como foi o seu dia e começou a falar com uma certa frequência de um coleguinha que vinha causando um terror na sala: muito agressivo, tinha o hábito de cuspir e bater nas pessoas, inclusive na professora. Um certo dia, ao te buscar, você veio meio brava e chamou o colega apontando pra mim “essa é minha mãe, viu?”. Achei aquilo engraçado, só falei pra ele “Poxa, o que foi, fulano?”. Mas não dei muto ibope não. No carro você me explicou que ele havia te chutado e empurrado uma outra colega. Já vim com o mesmo discurso de procurar se afastar e ficar com as pessoas que te fazem bem, e blá blá blá. E ficou por aquilo mesmo, você ia me contando que ele não havia mais te perturbado e achei que havia resolvido. A professora uma vez me falou que ele estava melhorando e que ele respeitava você, que te ouvia. E, numa outra ocasião, ao te buscar, você veio com ela pra me dizer que ele queria me dar um “oi”. Achei fofo, era como se você estivesse dizendo para mim que estava tudo resolvido, que agora eram amigos. No carro eu perguntei se você havia se afastado dele como havia sugerido e você, meio sem graça, me disse que não. Disse que achou melhor ficar perto dele e ajuda-lo. Aquilo fez meu coração transbordar de orgulho, foi aí que percebi que falhei em te aconselhar a isolar uma pessoa que se comporta mal, que aquilo foi egoísta da minha parte. Você, com apenas seis anos, me mostrou que é possível sim vencer o bullying com acolhimento, não com segregação.

         E, como uma cereja no bolo, nessa semana você celebrou seus 7 aninhos na escola e a professora me mandou as suas fotos, e uma delas me alegrou ainda mais: você separou algumas sacolinhas de lembranças para as coleguinhas da tarde, que estudaram com você no ano passado. Adivinha só quem era uma delas? Sim, aquela que um dia te fez chorar de soluçar, que te machucou. E mais uma lição foi aprendida, dessa vez, eu mais do que você.

        Seus 7 anos chegaram e eu que fui a presenteada! Obrigada, filha, EU TE AMO MUITO.

FALANDO DE SENTIMENTOS

       Desde que passou o seu último aniversário no dia 14/04, senti que você andava meio relutante em ir para a escola: reclamando de acord...