quinta-feira, 28 de abril de 2022
SOBRE ESPIRITUALIDADE
sexta-feira, 15 de abril de 2022
QUANDO AS CRIANÇAS NOS ENSINAM
Eu sempre fui uma criança expansiva, mandona e cheia de colegas na vizinhança, meus pais não tinham paz, a campainha tocava o dia todo.
Sou da geração
que lidava de uma forma diferente com o bullyng (aliás, nem era chamado assim
naquela época). A gente colocava e levava apelidos da mesma maneira que fazem
hoje (alguns até cruéis), mas a nossa reação era diferente. Não quer dizer que
acho que naquela época era certo ou errado, temos que levar em consideração que
antes os responsáveis tinham rosto – que diversas vezes eram socados nessas
horas - e não havia rede social para que tivessem “carta branca” para falarem o
que quiserem e de quem quiserem, ficando impunes. Na minha época de criança, nós
nos defendíamos debochando de volta, ficando de “mau” por alguns dias – até mesmo
algumas horas – ou apelando pra porrada mesmo. Dificilmente nossos pais se
envolviam, até porque sabiam que no dia seguinte já estaríamos brincando juntos
novamente. Não que os meus não tenham interferido quando julgavam que as coisas
foram além da conta, e eu até então não sabia com qual régua eles mediam para
saber a hora de intervir.
Assim
que me tornei sua mãe, uma angústia sem explicação tomou conta de mim: eu queria
te proteger de toda maldade do mundo, mas sabia que muita proteção poderia te
transformar em uma pessoa frágil demais, que uma hora ou outra, não teria a mãe
para defender. E, aos poucos, essa tal “régua” que meus pais usavam para saber
se deveriam ou não interferir foi se mostrando para mim, e eu adaptei meu
método para os dias atuais. Eu acredito muito que o diálogo franco entre pais e
filhos é capaz de aplacar muitas dores e preocupações. É como se nossos filhos
pudessem sempre saber que eles têm o porto seguro, que não serão julgados pelas
suas falhas e medos, que serão acolhidos incondicionalmente. Por isso sempre te
encorajei a falar, a não guardar nenhuma angústia, medo ou sofrimento que
esteja passando. Que nunca julgarei, nunca te repreenderei, sempre te
orientarei, ou pelo menos tentarei ser assim, né?
E, há
alguns dias, essa sementinha que plantei começou a germinar e eu transbordei de
orgulho do que estamos fazendo juntos, errando e acertando, estou certa que você
está se tornando uma pessoinha que só vai me dar orgulho.
No começo
desse ano letivo, numa noite como todas as que temos, onde te coloco pra
dormir, lemos um livro, conversamos um pouco e fazemos nossa oração, você
começa a chorar sentida, de soluçar. Tentei manter a calma, mesmo com o coração
em pedaços, e quando você se acalmou, me disse que estava muito triste porque
uma coleguinha havia dito que você era feia porque usava óculos e seus
dentinhos eram tortos. Ouvir aquilo me deu uma vontade enorme de levantar da
cama e sair gritando “QUEM FOI QUE CHAMOU MINHA PRINCESINHA DE FEIA?”, mas
mantive a elegância, apesar de estar borbulhando por dentro. De imediato eu te
acolhi, falei que as crianças faziam aquilo mesmo, que eram maldosas sem saber
do que aquilo podia fazer e, que na verdade, só queriam te deixar irritada. Minha
primeira reação foi te dizer pra se cercar dos seus coleguinhas que te fazem se
sentir feliz e que jamais faça isso com seus coleguinhas, porque você mesma já
estava vendo o quanto aquilo te deixava triste.
Mas.... meu instinto de mãe ursa não sossegou e fui dormir remoendo aquele choro sentido, com o coração em pedaços. No dia seguinte, chegando na escola, como sempre faço, fui falar com a professora e discretamente falei sobre o ocorrido e do quanto você havia ficado chateada. Ela me disse que se tratava de uma colega que vinha dando trabalho com outras crianças e a situação com os pais estava meio complicada, que não davam muito ouvido para as reclamações. Comentei também que você estava meio chateada porque suas coleguinhas inseparáveis não tinham conseguido vaga à tarde, e só se encontravam no almoço, para, no período seguinte irem para caminhos opostos. Dito isto, a professora sugeriu que você mudasse então para o período matutino e alterasse para o período da tarde suas atividades extracurriculares. Topei na hora e rapidamente revertemos isso. No dia seguinte você já estava nessa nova turma e, ao te pegar na escola naquele dia, seus olhinhos brilhavam quando me disse “obrigada, mãe”. Mas, expliquei para você que não era sempre que eu iria conseguir resolver os seus problemas e que teríamos que enfrentar juntas quando fosse o caso. Você compreendeu e fez isso de uma maneira surpreendente. Pouco tempo depois, como sempre fazemos, no carro de volta para casa, você já ia tagarelando como foi o seu dia e começou a falar com uma certa frequência de um coleguinha que vinha causando um terror na sala: muito agressivo, tinha o hábito de cuspir e bater nas pessoas, inclusive na professora. Um certo dia, ao te buscar, você veio meio brava e chamou o colega apontando pra mim “essa é minha mãe, viu?”. Achei aquilo engraçado, só falei pra ele “Poxa, o que foi, fulano?”. Mas não dei muto ibope não. No carro você me explicou que ele havia te chutado e empurrado uma outra colega. Já vim com o mesmo discurso de procurar se afastar e ficar com as pessoas que te fazem bem, e blá blá blá. E ficou por aquilo mesmo, você ia me contando que ele não havia mais te perturbado e achei que havia resolvido. A professora uma vez me falou que ele estava melhorando e que ele respeitava você, que te ouvia. E, numa outra ocasião, ao te buscar, você veio com ela pra me dizer que ele queria me dar um “oi”. Achei fofo, era como se você estivesse dizendo para mim que estava tudo resolvido, que agora eram amigos. No carro eu perguntei se você havia se afastado dele como havia sugerido e você, meio sem graça, me disse que não. Disse que achou melhor ficar perto dele e ajuda-lo. Aquilo fez meu coração transbordar de orgulho, foi aí que percebi que falhei em te aconselhar a isolar uma pessoa que se comporta mal, que aquilo foi egoísta da minha parte. Você, com apenas seis anos, me mostrou que é possível sim vencer o bullying com acolhimento, não com segregação.
E, como
uma cereja no bolo, nessa semana você celebrou seus 7 aninhos na escola e a
professora me mandou as suas fotos, e uma delas me alegrou ainda mais: você
separou algumas sacolinhas de lembranças para as coleguinhas da tarde, que
estudaram com você no ano passado. Adivinha só quem era uma delas? Sim, aquela
que um dia te fez chorar de soluçar, que te machucou. E mais uma lição foi
aprendida, dessa vez, eu mais do que você.
Seus 7
anos chegaram e eu que fui a presenteada! Obrigada, filha, EU TE AMO MUITO.
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