sábado, 31 de julho de 2021

UMA DÉCADA

Hoje eu tomei esse espaço para falar sobre uma pessoa muito especial que eu gostaria muito que você tivesse conhecido: A Vovó Cely.

Escolhi essa data por fazer exatamente 10 anos que ela partiu desse mundo. A tristeza que senti foi impossível de colocar em palavras, a dor foi imensurável, mas hoje a saudade é o sentimento que ficou. Mas, ainda assim, é uma saudade enorme, que por muitas vezes dói.

Sua avó era uma pessoa especial. Claro que a gente normalmente diz que a nossa mãe é a melhor do mundo, e tal... Mas quem conheceu a Dona Cely, com certeza vai confirmar o que eu digo. Ela era doce e frágil, mas, ao mesmo tempo, forte como uma rocha e uma leoa que dedicou sua vida à sua família. Ela não media esforços pelo bem estar dos filhos, pela nossa educação, nosso conforto, nossa felicidade. Perdemos a conta de quantas vezes ela se sacrificou por nós, quantas vezes, tão pequenininha , ficou gigante para nos defender. 

Mesmo não sendo dessa época, era dona de vários "memes", tantas histórias hilárias que gostamos de relembrar, sempre que me encontro com seus tios vem uma ou outra "pérola" da Dna. Cely.


Ela foi tão marcante que, ainda hoje, se eu fechar os olhos, consigo me lembrar da sensação de encostar a cabeça no seu peito: o cheiro, o calor... Aquela risadinha com os olhos apertadinhos, a maciez do seu cabelo, o joelhinho lisinho kkk Se ficar bem concentrada eu ainda escuto ela falando "Lê", seus conselhos, suas broncas, seu jeito de nos tratar como bebezinhos, mesmo quando já éramos marmanjos. Toda vez que vamos à SP e passamos pelo Frango Assado, não tem como não pensar nela pedindo pra trazer pão para tomarmos café, mesmo que a chegada fosse às 3h da madrugada.

Como eu queria que tivesse convivido com ela, mesmo que só um pouquinho, filha. Que você pudesse sentir o amor tão puro e genuíno que era quase palpável. Eu tento para você ser pelo menos a metade do que ela foi pra mim, mas é muito difícil chegar no patamar dela. Não que eu não te ame incondicionalmente, isso é indiscutível, mas a dedicação dela pelos filhos era exclusiva, e hoje eu sei que isso não era saudável para ela, que nós mães precisamos ser, antes de tudo, um indivíduo que cansa, que sofre, que quer ficar sozinho, que perde a linha, que tem vontade de fugir, que tem vontade de chorar. Até acho que ela tinha tudo isso, mas sempre abdicou pelos filhos. E eu me sinto culpada por isso, por ela ter vivido por nós desde que nascemos e, quando adultos, tomamos nossos rumos, ela se viu meio perdida, sem "sentido". Sinto por ter ficado tão distante dela - geograficamente falando - no seu último ano aqui nesse plano, por não ter mostrado minha fragilidade, que precisava do seu colo mesmo sendo adulta, que ela sempre seria necessária na nossa vida, dos meus irmãos, dos seus netos. Não sei se isso faria alguma diferença no rumo que as coisas tomaram, mas pelo menos não ficaria "martelando" isso na minha cabeça até hoje.

Por isso filha, eu fico me desdobrando em mil facetas para que eu consiga me agarrar em outra ocupação além de mãe no momento em que você não "precisar" mais de mim. Sendo filha também, eu sei que minha mãe sempre foi necessária, mas é um momento difícil não precisar mais ser mãe o tempo todo. Eu vivo falando que preciso de um tempo pra mim, que estou cansada, mas, de verdade, desde que soube da sua existência no meu ventre, eu não consegui me imaginar fazendo outra coisa senão viver pra você. 

Então, eu faço diariamente o exercício de agradecer mentalmente por cada vez que você grita "MÃE", ou quando fala pro seu pai que só consegue dormir se for comigo, que eu acompanhe no médico, que eu fique com você no banho, que eu conte as histórias pra você dormir, que eu te pegue na escola, que eu faça os curativos, corte suas unhas, que lembre o dia da natação e de pegar a sua máscara antes de sair. Eu sei que vou piscar os olhos e você terá ido para a faculdade, vai querer dormir nas amigas, no namorado, vai começar a dizer que sou muito pegajosa, que já é casada e tem suas responsabilidades. Mesmo sabendo que o meu colo sempre vai ser o melhor lugar para você afogar suas mágoas, para se aconchegar depois de um dia cansativo, pra falar de coisas banais... Porque era exatamente assim com a Dona Cely. E, mesmo depois de uma década, a sensação de que era ela que eu queria para me dar o colo continua a mesma. E o jeito que eu dou pra ter esse "colo" é conversando com ela nas minhas orações, pedindo que ela me oriente, me corrija ou apenas me acalente. 

E assim sempre será, pode vir duas, três , quatro décadas... Ela sempre vai estar tatuada em mim, não só na pele como há muitos anos, mas sempre no meu coração. 


E eu sempre vou honrar tudo o que me ensinou, com seu amor imenso e irrestrito. Sempre vou falar dela para você, sempre vou cantar "É preciso saber viver" e dizer que era a música da Vovô Cely. Uma vez eu vi, não me lembro onde que as pessoas que partiram são como barcos, e nós, estamos na praia observando eles partirem. Eles podem ter sumido do nosso campo de visão, mas, nem por isso, deixaram de existir. E eu tenho certeza que com ela também foi assim, não duvido que esteja "navegando" esplendorosa em outro lugar.



Obrigada mamys ! ❤

FALANDO DE SENTIMENTOS

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