sábado, 29 de maio de 2021

A SAGA DO PÉ - PARTE 3 (FINAL)

    Estávamos todas paramentadas, prontas para iniciar o procedimento, e você com esses olhos lindos arregalados.... Quanto entramos no centro cirúrgico, naquela sala fria e cheia de equipamentos, nos deparamos com 5 pessoas nos aguardando. Pronto: o escândalo estava armado.

    A nossa sorte foi ser atendida por uma equipe MARAVILHOSA, todos tentando te convencer , fazendo palhaçada, explicando amorosamente, tudo pra evitar que fosse à força. Você implorava, negociava, chorava, gritava, tudo pra ganhar mais tempo, na esperança de convencê-los a mudar de ideia. Mas, sabendo a filha que eu tenho, e que você NÃO IRIA CEDER, e vendo que todo o centro cirúrgico já estava olhando na janelinha pra saber quem era a escandalosa, olhei firme nos olhos do Anestesista e autorizei a contenção. Uma pessoa te envolveu com um lençol e segurou seus braços, eu segurei suas pernas, uma sua cabeça, uma colocando o oxímetro e outro pra colocar a máscara. Você gritava : "Por favor, NÃÃÃÃO" e meu coração apertava por ter que fazer aquilo à força, pois sabia que você não sentiria dor alguma, era só medo mesmo. Quando viu que não teria mais como relutar, você fez a contagem regressiva como havia aprendido, mas fez rápido demais. Mais calma, começou a contar novamente, e no 5 já apagou. Te acomodaram gentilmente na mesa, e me levaram à sala de espera. 

    Meu coração ainda estava aflito, muito medo de ter alguma reação à anestesia, mas como haviam duas outras mães com seus filhos aguardando também, a conversa me ajudou a distrair. Creio que não passaram nem 20 minutos e já me chamaram de volta: "Mãe, a Maria já está acordando". Aquilo acalmou meu coração instantaneamente. Te acompanhei do centro cirúrgico até a sala observação de pós operatório para esperar você acordar completamente. A espera foi te deixando impaciente, não ter o que fazer... Mas logo você foi liberada e fomos pra casa. Eu sai tão desorientada que acabei esquecendo de pegar a peça (pedaço da pele para biópsia) para levar ao laboratório indicado pelo dermatologista. Seu pai que acabou tendo que fazer a correria, voltar para o hospital e levar para o outro local, quase morreu de canseira. 

    Chegando em casa, você foi instruída a ficar deitada ou sentada o maior tempo possível, evitar de pisar no chão, pois havia levado uns 10 pontos. Ainda bem que sua amiguinha e companheira de todas as horas, Sophia, estava na casa da avó e ajudou a te entreter, assistindo filmes, desenhando, etc. O primeiro dia foi tranquilo, você não sentiu dor alguma e o curativo só seria retirado no dia seguinte. Esse momento foi o primeiro escândalo: Você viu os pontos e entrou em desespero: "Não acredito que fizeram isso comigo, eu NUNCA MAIS volto pro hospital", ainda bem que nesses dias eu estava em home office e pude lidar melhor com os seus dramas. Tomar banho também foi um outro escândalo, até você ver que não iria doer nada. Passar pomada? Outro escândalo. Tudo que era novo era motivo pra gritaria, os vizinhos devem achar que eu te torturo. 

   Mas, passado o medo do desconhecido, você se comportou super bem, às vezes queria dançar e pular, mas logo percebia que ainda não era o momento. A cicatrização ia muito bem, você tomava a medicação sem dificuldade.

    Só que, passados os 10 dias, chega o temido dia de tirar os pontos. Sabendo a escandalosa que você é, a médica falou para eu te levar no PA, pois não iria tirar no consultório...kkk Decidimos ir em um sábado pela manhã, seu pai sempre junto. Nesse dia eu perdi a conta de quantos "to com medo" você falou. Parece que foi mais tenso do que o próprio procedimento. O enfermeiro te chamou e eu já fui cochichando: "ela dá trabalho", então ele falou: "então o pai entra junto pra ajudar" - se soubéssemos o que estava por vir...rs

    Sentamos você na maca e ele pegou o instrumental, ao ver a pinça você já começou a perder as estribeiras. Seu pai te abraçou, eu segurei o pé e o enfermeiro começou. Você gritava, tremia, chorava, xingava... e eu focada em imobilizar o seu pé. Apesar do escândalo o enfermeiro, muito paciente, conseguiu retirar os pontos rapidamente. Saiu um pouco de sangue, você gritou mais ainda, e, quando ele foi só fazer a limpeza, eu relaxei e olhei pro seu pai: ELE ESTAVA CINZA! A mão estava tremendo, o enfermeiro olhou também e falou: "Moço, senta ali, por favor, o senhor está pálido". Até você parou de chorar...rs Passado o susto, ele limpou bem a área e fez um pequeno curativo pra proteger. Seu pai logo se recompôs e finalmente voltamos para casa, livres de tudo isso.

    Nessa semana peguei o resultado do exame e o diagnóstico se confirmou, graças a Deus! Retornamos no dermatologista pra levar o resultado e ele só receitou uma pomada pra ajudar a regenerar a pele e uma vitamina.

   Agora estamos todos felizes com a sua recuperação e por saber que o problema que você tinha era de fácil tratamento.

    Somente gratidão à Deus e a Nossa Senhora Aparecida que te acompanhou e te protegeu o tempo todo ❤

sexta-feira, 28 de maio de 2021

A SAGA DO PÉ - PARTE 2

    Chegamos no horário marcado para a consulta com a cirurgiã, mas, uma triste característica dos médicos daqui é que o chá de cadeira é inevitável. A espera nesse passou de uma hora, a médica estava em cirurgia e acabou atrasando. Depois de muita espera, você finalmente foi atendida. A médica tirou todas as dúvidas, explicou como seria o procedimento e , o que eu já esperava, teria quer ser feito no centro cirúrgico, uma vez que você precisaria ser sedada. Já deixou tudo agendado, guias emitidas e autorizadas. 
    Aí começava a parte do pré operatório - exame de sangue e consulta com o anestesiologista.
    No sábado seguinte já tratamos de te levar para fazer a coleta de sangue e, te conhecendo, já sabia que o escândalo estava armado. Costumo dizer que a Dona Cely com certeza está rindo da minha cara ao me ver desorientada com seu escândalo - você é uma versão 2.0 da Lelinha. Desde que paramos no estacionamento você já começou com o "to com medo" , falou umas 857 vezes, e eu sempre tentando te acalmar. Ficou com o papai lá fora porque a recepção estava bem cheia. Na hora que você foi chamada, você começou a choramingar e o choro foi aumentando a medida que ia chegando a sala de coleta. Quando sentamos para fazer a coleta, o laboratório inteiro já podia ouvir os seus gritos. Precisamos de três pessoas para conseguir te imobilizar, já que convencer a fazer amigavelmente não seria possível: eu te segurando no colo, "travando as pernas e um braço, um enfermeiro segurando o braço da coleta e o outro coletando. Depois de muitos gritos, um enfermeiro impaciente e uma mãe suada, os segundos que pareciam horas finalmente acabaram. Você foi pra casa reclamando por um tempo mas logo passou.
    A consulta com a anestesiologista foi muito tranquila, o que rendeu apenas 125 "to com medo", ela foi muito querida com você, te falou sobre as princesas, te examinou em troca de balas e no geral tudo correu muito bem. Agora era só esperar o dia seguinte.
    A minha preocupação começou, o medo da anestesia, de você passar mal, um monte de besteiras na minha cabeça. Resultado: não fechei os olhos a noite inteira. Fiquei na sala a noite toda, você chegou a acordar por volta das 3h e ficou lá comigo, logo voltou a dormir. Eu fiquei igual a um zumbi, meio desorientada, algo não recomendado para quem iria acompanhar uma cirurgia, mesmo que pequena, no dia seguinte, mas como se controla isso?
    O procedimento estava agendado para as 7h, e , deveríamos chegar no hospital as 6h. Por isso já te coloquei na cama com a roupa do dia seguinte para evitar te acordar, mas foi em vão. Você mal acordou e já iniciou a rajada de 2.568 "to com medo" de um dia inteiro. A médica falou que você poderia levar um brinquedo favorito pra te acompanhar e você escolheu a imagem de Nossa Senhora de Aparecida, achei muito fofa essa parte ❤. O papai foi junto pra dar todo o apoio moral, tentando te tranquilizar o caminho todo, explicando que você não sentiria nada, que seria exatamente como a médica do dia anterior havia explicado: uma fumacinha que faria você dormir e quando acordasse tudo já teria passado. Não adiantou nada, o drama só aumentava junto com o medo. Decidimos não falar mais nada, você parecia ter ficado surda de medo. 
    Apresentei toda a documentação e, admito, até a minha barriga chegou a dar uma desarranjada kkk Esperamos mais um pouco e logo nos chamaram para entrarmos na sala de espera do Centro Cirúrgico. Cada pessoa nova que aparecia para falar conosco, você dizia "to com medo" e a pessoa do do outro lado falava "não precisa ter medo, você só vai dormir" e, mais uma vez, de nada adiantava. Primeiro nos disseram que teríamos que esperar um outro procedimento, mesmo antes tendo nos dito antes que seríamos os primeiros, e retornamos à sala de espera. Encostei numa cadeira ao seu lado e do seu pai e simplesmente apaguei, acho até que ronquei kkk. Mas não durou nem 5 minutos e nos chamaram. Decidiram fazer o seu procedimento primeiro porque é mais rápido, ainda bem. Ao som de "to com medo" seguimos para a sala pra trocar de roupas, e aquilo te apavorou mais ainda, mesmo eu falando que estávamos parecendo com personagens de Amongus. Mas a essa altura do campeonato eu já estava tremendo também, com aquele monte de gente vestida com aqueles aventais, tocas e meias por cima dos sapatos. 
    Com a sua santinha na mão, apreensivas, seguimos para o centro cirúrgico.
    Mas ainda tem muita história, continua no próximo post...

quinta-feira, 20 de maio de 2021

A SAGA DO PÉ - PARTE 1

    Há aproximadamente um ano surgiu uma lesão do dorso do seu pé esquerdo do dia pra noite. Não coçava, não doia, nada... achei que pudesse ser a picada de um bicho, já que você passava uma boa parte dos nossos dias de confinamento no quintal, brincando com os cachorros. Esperei alguns dias e vi que não sumia, decidi chamar o seu pediatra. Como ele não estava fazendo atendimentos presenciais, mandei uma foto pelo whats e ele disse que parecia se tratar de "bicho geográfico" e prescreveu uma pomada. Apliquei por quase um mês e a lesão parecia só aumentar, na verdade abrir, ela era mais "gordinha" e foi afinando e tomando mais espaço no seu pé. Depois desse tempo chamei novamente o médico ele prescreveu uma outra pomada, mais apropriada para fungos e micoses. Mais um mês aplicando, nenhuma melhora. Já estressada com isso, comecei a apelar para receitas caseiras, compressas de gelo e tudo o que me indicavam, mas a lesão continuava a mesma. Mais uma vez chamei o pediatra - isso já foi quase no final do ano -  e ele me recomendou procurar um dermatologista. Agendamos um que seu pai já havia ido, a médica foi super atenciosa mas veio com uma suspeita que me preocupou muito: Hanseníase. Eu sei que existe tratamento, que não é contagiosa em casos leves, mas em uma criança tão novinha me assustou. Ainda mais que o tratamento é longo, leva de 6 meses a 1 ano. Mas, se tem que investigar, vamos investigar: a médica colocou o pedido do exame no sistema e lá mesmo já me falou que se eu quisesse coletar já poderia, pois já estava aprovado . Mas não sei que besteira ela fez que não aparecia nada aprovado e eu passei um mês em contato com o convênio médico pra tentar solucionar e nada. Até que, quase um mês depois, descobrimos que a médica tinha colocado um código errado. Só que nesse meio tempo eu já estava em contato com um imunologista indicado por uma amiga que concordou em avaliar. Mesma suspeita. Porém, como não era a especialidade dele, fez um encaminhamento à um colega dermatologista muito experiente nessa área, professor, palestrante e estudioso nos temas relacionados à Hanseníase. Fiquei mais confiante, e no mesmo dia já falei com ele e, prontamente, já nos atendeu no dia seguinte.

    Apesar de tomarmos uma canseira de duas horas de espera pelo encaixe, eu e seu pai na hora sabíamos que tinha valido a pena: o médico foi muito atencioso, explicou tudo nos mínimos detalhes e, ao avaliar o seu pezinho (fez o teste de sensibilidade com a tampa de uma caneta Bic kkk), ele seguramente já descartou a hipótese antes levantada. Com muita segurança, falou que se tratava de Granuloma Anular, uma infecção de causas ainda desconhecidas mas até que comum. Mas, para tranquilizar os papais preocupados, ele iria pedir uma biópsia da lesão. Recomendou uma conhecida cirurgiã pediátrica que atendia no consultório ao lado do dele para fazer o procedimento. Na mesma hora já agendamos a consulta com ela para a semana seguinte e saímos de lá mais leves e confiantes de que tudo não passaria de um problema de fácil solução.

Mas a solução não era tãããão simples assim... Conto no próximo post 

QUANDO VOCÊ COMEÇOU A LER

    Esse último ano em casa foi bem desafiador, como já disse aqui várias vezes, eu fui tentando equilibrar as atividades do meu trabalho, as funções da casa e suas aulas remotas. Perdi a conta de quantos dias me senti frustrada por não dar conta de tudo, por pensar no quanto você seria prejudicada por não estar no ambiente escolar, estando devidamente orientada pelos professores e tudo mais.
    Eu sei que você sempre foi muito esperta e tem muita facilidade para aprender, era mais um receio de que eu não estivesse fazendo o suficiente.
   Mas, dias atrás, como em um toque de mágica, você simplesmente leu uma palavra que estava escrevendo e eu levei um susto enorme! Sabia que já conhecia todas as letras, as famílias silábicas, etc, mas não imaginava que tão rapidamente iria conseguir juntar as sílabas e compreender as palavras. Fiquei tão emocionada, não sei nem como explicar! Apesar da primeira que eu registrei ter sido "Amizade", só foi depois de você ter lido "Azedo" que eu peguei o telefone para registrar. Não é à toa, eu sempre te chamo de "Azedinha" por ser tão geniosa e argumentadora. 
    A grande verdade é que você é Agridoce, porque também sabe ser amorosa, carinhosa e engraçada. Mas essa é uma palavra um pouco mais complicada que daqui a pouco você vai também saber escrever. 
    Esse é um grande marco, Maricota, você deu um passo enorme para o seu desenvolvimento, seu crescimento , sua indepedência e eu tenho um orgulho enorme de você. Valeu a pena, todo esforço meu e do seu pai é pequeno perto de uma alegria como essa! 
    Agora eu, mesmo estando com muito sono, vou com ainda mais satisfação pra cama ler o seu livro antes de dormir, pois sei que a leitura é uma forte aliada no seu desenvolvimento. Vou para as suas aulas on line com mais paciência, fazemos a sua tarefa com mais alegria, pois está sim, dando resultado. A gente aprende que nenhum esforço é em vão, e não devemos desistir de um filho diante do primeiro obstáculo de surgir. Nossas decisões refletem em toda sua vida, então, que sejam sempre as melhores!



FALANDO DE SENTIMENTOS

       Desde que passou o seu último aniversário no dia 14/04, senti que você andava meio relutante em ir para a escola: reclamando de acord...