Finalmente chegamos aos dias atuais. E que dias loucos são esses?!!
É tanta coisa estranha que está acontecendo que acho
que vou ter que dividir em tópicos, que ano mais maluco.
Começamos bem animados, passeamos de férias em SP,
vimos todos os familiares e voltamos para MT com gás e ânimo para arrasar! O
ano prometia, as expectativas profissionais eram bem otimistas, eu já estava
toda animada porque tudo indicava que conseguiria bater a meta do primeiro e
segundo semestres.
Em fevereiro começamos uma obra grande em casa, que só
foi acabar em abril, no meio de toda a confusão. Mas valeu a pena todo o sacrifício,
foi em boa hora, pois conseguimos enfrentar esse momento em um espaço muito
mais confortável e funcional.
Março começou com a palavra mais falada desse ano:
Corona Vírus. Esse virus devastador já vinha circulando pelo mundo desde o começo do ano, mas
quando chegou aqui no Brasil é que o drama começou, mas aqui em MT tudo ficou
feio em março mesmo. No meio do mês suas aulas foram suspensas e eu acabei
ficando sem saída, tive que ficar em casa. Aproveito para agradecer a empresa
que trabalho por ter sido tão compreensiva e me apoiado nesse momento.
Inicialmente me deram férias, ninguém sabia muito bem quanto tempo isso tudo ia
durar. Depois acabei ficando em Home Office mesmo, por tempo indeterminado.
Estamos em setembro e ainda não sabemos direito quando isso vai acabar. Seu pai
continuou trabalhando normalmente, então ficamos você e eu juntas, 24 horas por dia.
Os primeiros dias foram bem tensos: por conta do
acompanhamento da finalização da obra – com direito a uns bons stress com o
andamento mais lerdo que tartaruga. Imaginem ficar trancada em casa 24 por dia
com a sua cozinha interditada, barulheira sem fim e móveis espalhados pelos
quartos e sala. Achar uma xícara era quase uma caça ao tesouro. Seu pai perdeu
a linha com o pedreiro e a bronca resolveu: em pouco mais de uma semana tudo
começou a entrar nos eixos.
Finalizada a obra, começou a euforia da arrumação: Eu
queria tudo no seu devido lugar em tempo recorde, retomar minha vida
organizada, por favor! Montagem de móveis, estantes, limpeza, organização,
soluções, etc. Em menos de uma semana tudo também já estava na mais perfeita
ordem.
Seu
aniversário chegou em abril e eu não tive outra opção senão fazer uma festinha
em casa mesmo, só pra nós. Na verdade, a sua amiguinha Sophia, sua única
parceira nesse período todo, estava presente. Foi feito tão na correria, os
móveis ainda espalhados na sala, a cozinha interditada, puro improviso. O parabéns foi on line com toda a família e amigos conectados, uma bagunça enorme, ninguém entendia ninguém...rs Mas me
admirou a sua alegria e satisfação. Chegou até a falar que no próximo ano vai
querer que seja do mesmo jeito.
Somente
depois de tudo isso é que começamos mesmo a “sentir” a quarentena: experimentos
culinários – que me renderam quase 6 kg a mais e a você 4 kg -, brincadeiras
caseiras copiadas de vários perfis do Instagram, meditação e colocar as coisas
em ordem. Eu realmente precisaria de um tempo desses para conseguir ordenar
algumas coisas que estavam pendentes. Suas aulas on line começaram e também não deu muito certo por baixíssima adesão - praticamente só você - então começamos a receber os materiais gravados e tarefas pelo aplicativo. Funcionou melhor, assim eu conseguia me organizar dentro do meu tempo livre também.
Mas aí chega a hora que o desespero começa a bater:
notícias cada vez mais trágicas, falta de leitos nos hospitais, seu pai
trabalhando... eu comecei a transformar a casa em uma área de isolamento, seu
pai chegava e tinha que ser desinfectado, ir direto pro banho. As notícias
continuavam piores, até que, em junho eu esgotei: tive uma crise de ansiedade
horrível, uma falta de ar súbita, parecia que ir morrer. A pressão chegou a
subir, mas o meu maior medo era que fosse hiperglicemia, já que sua avó era
diabética. Corremos para o hospital, e você ficou com a Tia Erica (sempre
quebrando o galho...rs) para evitarmos que você estivesse exposta a qualquer
risco de contágio. Para minha sorte o hospital estava completamente vazio e fui
atendida rapidamente. Graças a Deus a glicemia estava normal e a pressão estava
começando a controlar. Me deram um “sossega leão” e voltei pra casa. Naquele
dia eu decidi a não ver mais os noticiários e procurar me cercar de boas
energias, ter bons pensamentos. Me desesperar não ia resolver o problema, mas
jamais deixaria de me cuidar e cuidar da minha família. Estes cuidados
permanecem até hoje, continuamos saindo somente para assuntos importantes
(trabalho e saúde), sempre cuidando da higienização e utilizando máscara. É
incrível ver como você se adaptou naturalmente, usa sem reclamar, parece ter
consciência que se trata de proteção.
Atualmente os números por aqui começaram a baixar e
aos poucos as coisas vão retomando. Claro que não da mesma forma, mas aos
poucos a vida precisa continuar. Eu permaneço trabalhando em casa e, graças a
Deus, o movimento está aumentando bastante. Agradeço a você por ter
compreendido o fato de eu passar praticamente o dia todo no escritório, vindo
trazer água pra mim com aquele jeitinho fofo: “você já tomou água hoje, mãe?”.
Tem dias que você parece não estar muito a fim de ficar sozinha com seus
brinquedos, os cachorros e a TV, parece precisar mais de mim, e acaba ficando
mau humorada. Eu fico também, é uma rotina muito louca ter que ficar trancada
aqui dentro e passando a maior parte do tempo sozinha. As vezes eu sinto
saudades de falar com um adulto...rs
Mas me
sinto privilegiada por poder estar com você tanto tempo, poder te proteger
desse vírus que já destruiu tantas famílias... Antes eu reclamava que
trabalhava muito e tinha pouco tempo pra você, agora eu estou com você todos os
dias, e posso, junto com o trabalho, os afazeres domésticos e as aulas on line,
te dar beijinhos, umas broncas, dar risadas e ver o quanto você é especial.
Tenho certeza que você tá curtindo muito esses momentos aqui em casa e a
adaptação quando for retomar as aulas vai ser bem desafiadora. Aliás, suas
aulas retornaram essa semana, mas como estarei em home office até final de
outubro, achamos melhor permanecer comigo em casa nesse primeiro momento.
Torço para
que tudo isso passe logo e a gente possa finalmente voltar às nossas rotinas.
Nunca mais será como antes, eu sei, mas sei que é necessário para você voltar
para a escola, aprender mais coisas e ver seus amiguinhos.