sexta-feira, 31 de julho de 2020

ANO 1


Pouco tempo após o seu aniversário, comecei a ver que o número de crianças no hotelzinho estava aumentando muito para a estrutura e número de funcionários e comecei a sentir que as coisas não estavam fluindo muito bem. Você andava irritadiça e chorona e as suspeitas se confirmaram, infelizmente descobri maus tratos, onde você foi negligenciada de atenção algumas vezes. Aquilo acabou comigo, eu me vi completamente sem chão. No mesmo dia da descoberta, eu e seu pai decidimos tirar você de lá, não era justo você ficar nem mais um minuto nesse lugar onde não era bem tratada.
Não sabia o que iria fazer, não tendo parentes aqui e eu e seu pai precisando trabalhar, com quem você ficaria?
Como Deus nunca nos desampara e você já estava ficando aos sábados com uma pessoa que trabalhava lá, que eu já sabia que tinha um carinho diferente por você, e foi ela que passou a cuidar de você todos os dias a partir daí.
Com os novos ares, você passou a ficar mais tranquila, se alimentar melhor e se desenvolver ainda melhor. Você foi muito bem acolhida, como membro da família mesmo.
A parte chata é que nesse ano começaram suas infecções de garganta que vinham com bastante frequência e a chatice com os antibióticos foram os maiores incômodos do ano. Era uma preocupação constante, qualquer pequeno sinal já podia ter certeza, garganta!
Seus primeiros passos surgiram logo após fazer um ano, e, se engatinhando já fazia arte, imagine andando. Dessas artes você vai ficar para sempre com uma lembrança: esses dois risquinhos pequenininhos na boca foi um “presente” após um dos vários tombos que levou. Assim, você logo aprendeu que o importante é levantar, sacodir a poeira e seguir em frente.
Foi nesse mesmo ano realizamos o nosso sonho e finalmente fomos para nossa casinha, um lugar tranquilo e com muito espaço para você crescer e criar grandes lembranças. Nossa dinâmica se complicou um pouco porque ficamos bem mais longe do trabalho, mas nada impossível de se adaptar. Fazer mudança com criança pequena é uma loucura, eu devo ter ficado umas duas semanas com dor no corpo. Mas valeu muito a pena, era o nosso canto, nosso teto! Que bom que você fez parte dessa conquista. A vizinhança de imediato foi muito receptiva e você tinha espaço para brincar com mais segurança. Realmente foi a melhor decisão das nossas vidas.
Seu novo quarto era bem mais espaçoso e eu me esforcei bastante para tornar ele um espaço lúdico e de aconchego, e acho que deu certo, já que você adora ficar nele. Livros, brinquedos, almofadas, ali era o seu lugar. Espero que sempre tenha boas lembranças dele.
O seu aniversário de 2 aninhos foi no Pantanal, que aventura deliciosa! Seus Dindos estavam aqui e organizamos um grupo com amigos para aproveitar o passeio. Um micro-ônibus foi contratado, que quebrou quase chegando e terminamos a viagem no caminhão estilo Safari, já chegamos lá dando muita risada! Você já havia ido lá algumas vezes, e a conexão que tem com esse lugar maravilhoso é impressionante. Até um “Parabéns pra você” ao melhor estilo Pantaneiro você ganhou!


Aos poucos as coisas foram se acalmando e as tristezas do começo do ano foram ficando para trás. O importante é olhar para o futuro lindo que virá pela frente!

segunda-feira, 27 de julho de 2020

PRIMEIROS MESES - P2

Quando você tinha 8 meses, embarcamos na sua primeira viagem: fomos de carro de Cuiabá à Porto Alegre, onde você iria conhecer meu irmão, minha cunhada e seus priminhos gêmeos Murilo e Miguel. Seriam, entre ida e volta, cerca de 6.000 km.
Antes de embarcarmos nessa loucura, fomos ao seu pediatra e ele nos recomendou dar um Dramim para que você não sentisse enjoo, principalmente no começo. No dia da saída nos preparamos, checamos duzentas vezes as bagagens e fomos abastecer para pegar a estrada. Ainda bem que no posto, ainda em Cuiabá, decidi já te dar a medicação, já que estávamos próximos da rodovia. Em questão de segundos seu pescoço começou a avermelhar, descendo até seu peito. Voltamos feito doidos diretamente para o PA, quando foi confirmada a reação alérgica ao medicamento. Resultado: só poderíamos seguir viagem no dia seguinte, pois você teria que ficar em observação caso a reação voltasse. Graças a Deus a noite foi tranquila e no outro dia cedinho pegamos a estrada.
Foi uma viagem muito mais tranquila do que eu imaginava, fiquei especialista em trocar suas fraldas dentro do carro e amamentar. Tivemos dois contratempos, ambos na ida: Pneu furado no meio do nada, mas fomos auxiliados por um caminhoneiro prestativo, e a parada que tivemos que fazer em um motel para que você pudesse tomar um banho e comer tranquila. Essa segunda foi inusitada, porque obviamente não entramos para os fins convencionais e a camareira que foi levar um prato e uma colher ficou toda sem graça de entrar no quarto kkk. O número de paradas foi três vezes maior do que o normal, mas não foi uma viagem cansativa, conseguimos aproveitar bastante. Paramos em São Paulo (capital) para você conhecer seus titios e primos paternos e passarmos uma noite lá. Foi muito emocionante, chegamos tarde da noite e a família inteira estava lá nos aguardando com muita alegria. Esse lado da sua família é bem maior, você tem muitos primos! No dia seguinte foi uma farra, você foi muito paparicada.
A viagem precisava continuar, mas a despedida foi bem difícil.
Seguimos para o interior de São Paulo para encontrar com seus tios e o vovô, que também embarcaram na comitiva até o Rio Grande do Sul para passarmos um delicioso Natal e Ano Novo com a família toda reunida. Esses encontros são bem raros de acontecer, uma vez que os irmãos sempre moraram todos tão distantes do outro. Mas o que importa é que o amor não tem fronteiras e esses encontros são sempre cheios de alegria e união – nem dá tempo de brigar kkk
Nossa chegada na casa do Tio Xande também foi muito emocionante, sua Tia Bi adora receber nos enchendo de guloseimas, foi uma delícia ver a casa cheia. Finalmente você conheceu seus priminhos, que delícia!
Como se a casa não estivesse cheia o suficiente – ainda bem que é grande – chegaram também os parentes da Tia Bi e seu mano Marquinhos com a esposa Taís, que também ainda não tinham tido a oportunidade de te conhecer pessoalmente.
Sua conexão com seu irmão mais velho foi tão instantânea! O Marquinhos tem um jeito mais calmo, pensativo, muito amoroso e sempre com um sorriso no rosto. Você parecia sempre se acalmar quando estava no colo dele, por diversas vezes me emocionei em pensar que você tem irmãos bem mais velhos, mas que te amam muito e, mesmo distantes, estão prontos para te defender e proteger.
Festejamos o Natal e Ano Novo com muita alegria, foram momentos muito valiosos. Mas, ir vendo cada um voltando pra casa pouco a pouco foi dando um aperto. Fomos os últimos a sair da casa do tio Xande, e foi muito difícil se separar novamente dessa família tão amada.
Mas a viagem era longa e precisávamos seguir.
Dessa vez, decidimos parar em Monte Alto, interior de São Paulo para você conhecer seu irmão do meio, o Gabriel. Ele tem um jeito diferente do Marquinhos por ser mais expansivo e comunicativo, mas desde que era bem novinho já sabia que tinha um jeito todo amoroso com crianças. Ele se encantou pela Letícia, sua prima, quando ela era bem bebezinha. Sabia que ia se apaixonar pela maninha caçula logo de cara. Passamos uma noite na casa do Marquinhos e no dia seguinte curtimos um churrasco de despedida. Dessa vez seguiríamos para casa, finalmente.
Estar com a família inteira reunida sempre foi algo muito difícil para nós por morarmos tão distantes, mas sempre que dá alguém vem para cá ou damos um jeito de ir vê-los. Espero que você sempre saiba que a família é o nosso bem mais precioso. É o legado mais valioso que você pode receber.



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Nós sempre gostamos de ter animais de estimação, e, quando você nasceu, suas irmãzinhas de pêlo eram a Pitty, uma Fox Paulistinha completamente fora do eixo, e a Rita, uma Vira Latas que já adotamos bem idosa. Infelizmente, nos despedimos da Pitty antes de você completar um ano, após uma doença devastadora e sem cura. Foi muito doloroso para nós, mas você quase não entendeu porque, além da pouca idade, a Pitty tinha muito ciúme de você e não gostava muito de interagir com crianças.

Pouco tempo depois disso, eu já começava a planejar a sua primeira festinha, fazendo tudo com muito carinho. Deu um trabalho enorme, mas valeu cada noite de sono perdida, era uma celebração não só ao seu primeiro ano, mas também à vitória minha e do seu pai por termos conseguido passar por tudo isso com muito amor!

sábado, 25 de julho de 2020

PRIMEIROS MESES

Creio que para toda mãe deve ser igual: o primeiro ano é o mais desafiador na maternidade: vacinas, cólicas, voltar a trabalhar, sentar, engatinhar, dentição, amamentação... É uma prova de fogo pra ver se você aguenta mesmo, porque os desafios vem todos de uma vez.
No seu caso, mais especificamente nos primeiros três meses, eu posso dizer que foi bem tenso. Além da cólica, você também tinha refluxo, e começou um tratamento bem complicado com exames e mediação específica. Além das vacinas habituais – ainda bem que você nunca teve reação – seus primeiros dentinhos apareceram aos três meses, imagina amamentar assim.
Aos 3 meses foi o seu batizado, e dessa vez a sua Tia Bia, veio com o Tio Carlos e a Lelê, que ainda não a conheciam. Foi rápido, mas muito bom você conhecer mais pessoas da família. E eles vieram como titios e voltaram como Dindos, sendo assim chamados até os dias atuais. Tenho certeza absoluta que cumprem essa função muito bem, mesmo à distância, e na nossa ausência, a vocês confiarei nosso maior tesouro sem medo algum.
Quando completou 4 meses, eu precisava retornar ao trabalho. Você tão pequenininha indo para um hotelzinho, ficar com pessoas que não conhecia, um medo me invadia. Encontrei um lugar próximo ao trabalho do papai, onde também pude ficar até os seus quatro meses, facilitando assim a amamentação. Eu ia lá duas vezes ao dia e aproveitava para diminuir a saudade que sentia. Na adaptação você ficava primeiro umas duas horas, depois passando a ficar a metade do dia e, finalmente, o dia todo.
Esses primeiros meses lá foram até que tranquilos, eu conseguia ter uma boa comunicação com as proprietárias. Você estava se desenvolvendo bem e começou a introdução alimentar aos seis meses sem maiores problemas.
 Nesse período você já começava a mostrar as suas preferências: adorava brinquedos que pudesse morder e fizessem barulho, seu preferido era um chocalho que seu pai te deu. Seu desenho animado predileto era a Galinha Pintadinha. Por diversas vezes me via cantando as músicas dela no trabalho, não saem da cabeça de jeito nenhum.
Além dessas músicas, uma que chamava a sua atenção era Mary Cristo dos Tribalistas, eu costumava cantar para você enquanto estava na minha barriga, e sempre que você ouvia ficava com os olhinhos atentos, provavelmente se lembrando dos momentos que passou dentro de mim. Engraçado como até hoje essa música te embala para dormir, funciona todas as vezes...rs
Nossa conexão aumentava cada vez mais e com o passar do tempo eu já ia conseguindo te entender melhor.

Continua...

segunda-feira, 20 de julho de 2020

PRIMEIRAS SEMANAS E PUERPÉRIO


Eu costumo dizer que Deus foi muito bom pra mim, minha recuperação foi muito rápida, eu me movimentava sem dificuldades desde que saí do hospital, praticamente não sentia dores. As pessoas sempre me perguntavam se havia sido parto normal porque eu realmente estava me sentindo muito bem. Acho que só pode ter sido obra Divina, já que dois dias depois minha irmã precisou ir embora para São Paulo e seu pai precisou voltar a trabalhar. Foi um teste de fogo mesmo, totalmente inexperiente e sozinha. Logo seu vovô Zé chegou também, aí ele ajudava nos afazeres domésticos e aquele bolo de fubá que nunca mais vou comer igual na vida, foi uma benção.
Tive muita dificuldade para amamentar, mas fui teimosa! O leite descia, mas a pega não dava certo, eu estava muito ansiosa. E você, bravinha desde bebê, sabia fazer um bom escândalo. Nas primeiras semanas fui com seu pai em um hospital daqui de Cuiabá para receber ajuda das Doutoras do Peito, para que me orientassem melhor do que no pós parto. Foi tão perfeito, as meninas foram tão pacientes e carinhosas! Você pegou direitinho e mamou por meia hora sem parar. Dormiu o resto do dia, parecia um milagre. Eu achava que esse era um problema superado, mal sabia que era só o começo. De tanto fazer a pega errada, meus seios começaram a ficar feridos, a dor era indescritível. Uma vez, no meio da madrugada, me lembro de você desesperada tentando mamar e o leite saindo misturado com sangue, eu desatei a chorar agarrando com força a mão do seu pai, dizendo: “Porque eu fui inventar isso, meu Deus?”.
Mas a sua mãe quando cisma com uma coisa não há quem tire da cabeça. Comecei a tentar tirar leite com uma bombinha manual, eu suava e não conseguia tirar nada. Uma vez, fui te dar o pouquinho que tirei e coloquei em um copinho como as Doutoras haviam ensinado. Porém, no nervosismo, te dei o leite com você inclinada e ao engolir você afogou. Esse foi o momento que mais senti medo na vida: Você roxinha, seu avô com os olhos arregalados e, apesar do meu pânico, tive a frieza de te posicionar e fazer a manobra do desengasgo. Graças a Deus você voltou rapidamente e aí a moleza tomou conta de mim. Só lembro de te entregar para o meu pai, totalmente apavorado, e sentar no sofá, meio que desfalecida. Não passou nem um minuto e fui tomada por uma fúria, misturada com determinação e medo, que me levantou. Comecei a arrumar suas coisas feito doida, me arrumar e saímos novamente em busca das Doutoras. Não era possível que eu tinha leite e não ia alimentar minha filha.
Chegando lá, novamente muito bem atendida, consegui te alimentar e você apagou mais uma vez. Já tinha tentado todas as receitas caseiras que havia na face da Terra, mas não dava certo, o problema estava na minha cabeça e no meu nervosismo. Foi mais de um mês alternando entre a fórmula e o peito, mas nunca desisti do sonho de amamentar.
 Em uma das consultas de pós parto com a Dra. Fabíola, desabei e falei da minha frustração, então ela me receitou uma medicação para me acalmar: foi como abrir uma porta mágica, você grudou no meu peito e só foi largar com quase dois anos de idade. Eu me senti tão realizada e feliz por ter batalhado tanto por esse sonho e ter finalmente conseguido. Lembro de nos primeiros meses que retornei ao trabalho, eu ia duas vezes ao dia no hotelzinho para te amamentar e depois, até os seis meses, eu tirava com a bombinha elétrica (outra benção na minha vida) e guardava para mandar no dia seguinte.
Por conta desse e de outros desafios que tive que enfrentar no puerpério, eu acabei emagrecendo mais do que engordei na gestação. As pessoas vinham me visitar e diziam que estava parecendo um zumbi.
Seu vovô foi embora quando você tinha uns 15 dias e aí o negócio ficou ainda mais complicado. Mas de certa forma eu já estava sabendo como você “funcionava” e logo consegui me acostumar com a loucura toda.
Seu pai foi tão importante, mas tão importante nesse momento, minha filha. Ele não teve preguiça, se eu acordava ele acordava – mesmo não sendo capaz de amamentar – ele te dava banho, te trocava, fazia comida, limpava a casa, enfim, foi PAI com letras maiúsculas. Estávamos de mãos dadas, por mais difícil que fosse o momento, sempre por você.

sexta-feira, 17 de julho de 2020

NASCIMENTO PARTE 2


            
                                            *muita emoção, não é papai?

Finalmente fui levada ao quarto e logo em seguida você chegou, toda embrulhada, minha pequenininha. Infelizmente as enfermeiras da internação não eram nada simpáticas como as do centro cirúrgico. Explicaram impacientemente como fazer a pega da amamentação, falaram que eu não poderia falar muito e tentar ficar o máximo de tempo sem me movimentar nesse primeiro momento. Eu estava meio perdida, parecia que era a estreia de uma nova pessoa, que estava me conhecendo ali, naquele momento, uma situação meio difícil de explicar em palavras.
Maria se comportou muito bem, dormia boa parte do tempo, eu tentei algumas vezes amamentar, mas estava desconfortável. Minha irmã estava comigo o tempo todo e logo chegou uma outra mãe com seu filho e sua acompanhante. Papai e Shirley vieram me ver rapidamente no quarto, estavam todos muito sorridentes, pois já haviam conhecido a Maria anteriormente.
Logo estava conseguindo me movimentar bem e aos poucos fui ficando em pé. No final da tarde uma enfermeira me chamou para tomar banho, pois iria começar o horário de visitas. Foi um momento bem desconfortável, mas era o que mais precisava pra ter as energias renovadas.
Em seguida alguns amigos chegaram, e Maria dormia o tempo todo. Consegui me alimentar e tentar fazer ela mamar algumas vezes. Não sabia exatamente se estava conseguindo ou não.
Ao dormir e ela foi uma princesa, dormiu a noite toda. Eu não consegui porque a outra criança do quarto estava meio agitada, até tombo de acompanhante rolou na madrugada, imagina o susto...rs
No dia seguinte eu já comecei a andar pelos corredores, levei a Maria pra trocar a fralda, mas não tive coragem de ver furar a orelha, essa ficou para a Dinda, mas pelo o que ela falou, você só deu uma resmungada.
Como o hospital estava lotado e eu já estava super bem, caminhando sem dificuldades, me deram alta naquele dia mesmo, no final da tarde. Uma outra médica me passou as medicações e recomendações.
Engraçado foi ver o seu pai dirigindo na volta pra casa: ele que sempre foi muito prudente, passou a dirigir a uns 10 km/h, acho que de bicicleta chegaríamos mais rápido em casa. 
Chegando em casa, na época ainda morava em um sobrado, já me deparei com o primeiro desafio que foi subir um lance grande de escadas, mas, até para minha surpresa, foi bem tranquilo.
E assim começou a nossa nova vida, nossa casinha tinha mais uma pessoinha e uma grande aventura chamada MATERNIDADE se iniciava.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

SUA CHEGADA AO MUNDO


       Um dia antes de você chegar eu estava muito ansiosa, como não, né? Sua Dinda/Tia Bia havia chegado há alguns dias e me ajudou a segurar a onda. Fomos juntas ao salão para fazer as unhas e arrumar o cabelo. Chegamos em casa e fomos conferir a mala da maternidade pela milionésima vez, estava tudo certo, nada foi esquecido: Roupinhas, documentos, brinquinhos, mantinhas, tudo pronto pra você. Fui deitar porque sabia que dormir eu não ia mesmo.
Levantei da cama umas 5h para tomar um banho e me arrumar, já que tinha que estar no hospital às 7h para iniciar a internação. Chegamos lá, o papai um pouco mais atrapalhado do que o normal, trocamos o andar, mas logo nos encontramos. Entreguei toda papelada para a recepcionista e aguardei. Eu não estava nervosa ou com medo, estava ansiosa pra te ver.
Seu papai desde o começo da gestação disse que não iria assistir o parto, pois não tinha a menor condição psicológica, e que provavelmente desmaiaria, dando mais trabalho. Sendo assim, a Dinda fez as honras e seguiu para a missão de ser a primeira pessoa a família a te ver chegando ao mundo. Seguimos – eu e ela – para o centro cirúrgico e começamos a nos vestir com aquela parafernália toda. Seu pai seguiu para a sala de espera acompanhado de um monte de malas... Logo em seguida uma querida amiga, a Shirley, chegou para ficar com ele e segurar caso desmaiasse.
Minha irmã ficou aguardando em uma antessala enquanto eu ia para o centro cirúrgico. Nesse momento, com aquela camisola rosa, touca na cabeça e uma meia descartável, me vi nervosa: aquele monte de salas (umas 7), médicos transitando parecendo uns ET´s com aquelas roupas, choro de criança, grito de mãe, risos, conversas aleatórias...Fiquei perdida, me perguntando, o que faço agora? Até que uma enfermeira veio com um sorriso, talvez percebendo a minha cara de perdida, e me falou para aguardar um pouquinho que logo liberariam a minha sala. Sentei em um banco onde já estava uma moça também com olhar assustado. Nem lembro direito sobre o que conversamos, mas eu não consigo sentar perto de alguém sem puxar assunto, talvez se tivesse um cartão de visitas eu já teria entregue. Mas provavelmente foi sobre o sexo dos bebês, nomes, etc.
Não demorou muito e ela foi chamada, ficando eu lá mais uma vez sozinha. Acho que passou uns 10 minutos e uma outra enfermeira foi me avisar que minha sala foi ocupada por outro médico que teve que atender um parto de emergência. Eu só conseguia me preocupar com o seu pai lá fora que deveria estar agoniado. Pedi para que o avisassem, se possível. A enfermeira abriu uma porta e ele apareceu em uma fresta com aqueles dois olhos verdes esbugalhados perguntando sem dizer nada: “Cadê ela?”. Nem se deu conta que eu não conseguiria estar em pé se já tivesse realmente parido.
Mais calma por ter avisado seu pai, tornei a sentar e pensar em coisas boas, no seu rostinho, na alegria de te pegar no colo, amamentar, aquela coisa de comercial de margarina. Por hora funcionou até que minha médica me chamou e repetiu o que a enfermeira havia dito, mas que já estavam preparando a minha sala.
Finalmente fui chamada e senti minhas pernas gelarem: Era agora.
Uma enfermeira de sorriso largo me recebeu na sala: “Bem vinda, Heloisa”. Gostei dela na hora, me acalmou. Uma outra igualmente simpática também chegou e começaram e me preparar, explicando cada coisa que faziam. O anestesista também chegou e começaram a conversar alegremente, contando piadas. Acho que fazem isso de propósito para nos acalmar. Se for, já aviso que adiantou. Me virou de lado, explicou que iria enfiar uma agulha na minha coluna (delicadamente, claro) e até que fiquei bem. Ele me espetou três vezes até acertar e só fiquei sabendo disso depois que ele comentou que não foi tão fácil. Enfim, para mim foi tranquilo e logo estava totalmente amortecida da cintura pra baixo. Logo a Dinda entrou, ficou ao meu lado, onde a enfermeira havia indicado, e trocamos algumas palavras. O ambiente estava realmente tranquilo, uma energia boa e aquilo me acalmou muito. Por fim, a Dra. Fabíola chegou com aquela voz calma e aquele humor leve e começou a cirurgia. Me lembro de sentir náuseas e o anestesista colocar um pano no meu ombro e dizer: “qualquer coisa vomita aí”. Ainda bem que não precisei, não seria legal que a primeira foto da Maria fosse emoldurada com vômito. Foi tudo muito rápido, mas me lembro de um momento de tensão quando ele pediu licença à minha irmã e “forçou” a saída na da Maria parte de cima da minha barriga. Sei que esse não é o jeito mais natural de uma criança vir ao mundo, mas o importante é que você veio cheia de saúde e eu também estava bem. Lembro de ouvir a enfermeira falar “parece bebê de novela, tão limpinha” e achei graça naquilo.

                                *eu, minha irmã e minha bonequinha de novela

Ouvir seu choro encheu meu coração de alegria, um momento tão lindo, e quando te vi, foi tão rápido, mas foi uma mistura de alívio e amor difícil de explicar.
Feitos todos os procedimentos, você foi levada para o berçário e eu, depois de suturada, claro, fui para a sala de repouso. Minha irmã foi se juntar ao papai ansioso e a minha amiga Shirley para esperar para se conhecerem.
Fiquei mais tempo do que gostaria na sala de recuperação, completamente sozinha. Não tinha notícias, aí descobri que um turno havia saído para o almoço e outro estava no apoio no Centro Cirúrgico porque aquele 14 de abril de 2015 estava bem agitado. Maria não ia vir ao mundo em um dia monótono, bem a cara dela fazer isso.

Continua...

sexta-feira, 10 de julho de 2020

GESTAÇÃO - PARTE 2


A escolha do seu nome foi muito fácil, até mais do que se fosse menino. Helena era um nome que já estava planejado muito antes de conhecer o seu pai, não sei direito o motivo, esse nome me passava a sensação de força. E a decisão foi tomada quando uma vez, indo ver o seu pai no início de namoro, fiquei encantada com uma menininha sentada no banco da frente do ônibus que conversou comigo a viagem inteira, muito linda e esperta. Chegando no meu local de parada, perguntei o seu nome – Helena – parecia um sinal que era para ser esse mesmo o nome de uma filha que nem planejada era.
O primeiro nome, Maria, foi pensado depois que a sua avó Cely faleceu, já que esse também era o primeiro nome dela. Sua avó foi uma pessoa indescritível, um amor incondicional, não tinha como não a homenagear.
O significado acabou ficando algo como “Senhora Soberana Resplandecente”, e não poderíamos ter escolhido um nome mais apropriado.
A gestação foi bem tranquila, nos primeiros meses o sono incontrolável não me deixava, eu parecia querer dormir até quando acabava de acordar, mas logo essa sensação foi passando. Eu costumava almoçar bem rapidinho para aproveitar mais tempo dormindo.
Definitivamente, sentir você se movimentar pela primeira vez foi uma das melhores experiências: começava com um formigamento na base da barriga, para, nos últimos meses, parecer uma bola de basquete girando lentamente, ou nem tanto, dentro de mim. Eu dava toquinhos de leve e você respondia com chutinhos – ou soquinhos, difícil saber. Mas, desde dentro da barriga eu saberia que você ia dobrar seu pai no meio com muita facilidade, era só ele chegar e chamar o seu nome que você se contorcia todo na direção dele, como se pedisse colo. E assim começava o complô contra a mamãe...
Seu desenvolvimento no decorrer dos meses foi muito tranquilo, todos exames indicavam um crescimento normal e esperado. Eu sempre fazia dos exames com a mesma médica, Dra. Fabiana, uma pessoa muito simpática e que gostava de explicar tudo com muita paciência e detalhes.
Porém, no 8 mês de gestação, precisei fazer um exame e essa médica não estava disponível, acabei agendando com um médico bastante conhecido na cidade. Mas, me arrependi assim que entrei no consultório: frio, antipático e nem um pouco disposto a esclarecer nossas dúvidas. Apenas mencionou que você não estava recebendo sangue o suficiente e eu corria o risco de pré-eclâmpsia. As poucas perguntas que fiz foram respondidas com um seco: “veja com a sua obstetra”. Saímos de lá com as pernas bambas, na hora liguei para minha médica. A Dra. Fabíola é um doce, um humor incrível e uma delicadeza impressionante. Me tranquilizou, que não era bem assim, que tinha que comparar com o exame do próximo mês para ter um parâmetro. Mas não fiquei tão calma assim. Aproveitei que estava com as férias vencidas e, ao invés de deixar para o final da licença, achei que tirar aquele momento para me acalmar e me conectar ainda mais com você ia ser melhor. E realmente foi. O seu exame seguinte mostrava que você, além de estar se desenvolvendo normalmente, tinha cabelo para dar e vender.
O ultimo mês é quando a paciência se esgota: as posições para dormir são ineficazes, e você mexendo na minha barriga de madrugada só me faziam querer que você saísse logo, não aguentava mais esperar para ver a sua carinha!
Como eu já estava com a Cesariana agendada para 14 de abril, eu só fui uma vez ao hospital achando que você estava chegando antes, mas, foi alarme falso: Você ia ser Ariana e não havia nada que pudéssemos fazer a respeito senão pedir paciência.

segunda-feira, 6 de julho de 2020

GESTAÇÃO

         Bem no início da sua gestação, quase uma semana após a descoberta, eu tive um sangramento. Fiquei bastante assustada e já fui avisando o papai que possivelmente estaria perdendo você. Fomos ao hospital rapidamente e, ao ser chamada, acabei entrando sozinha. Fiz uma ultrassonografia e foi aí que realmente eu me senti conectada com um serzinho microscópico que estava crescendo em mim: eu escutei seu coraçãozinho batendo acelerado, o som mais lindo do mundo. Fiquei muito emocionada, não sabia nem processar o que estavam me falando, só sei que disseram que nós estávamos bem e a gestação transcorria normalmente. Quando falei para o seu pai o que tinha acontecido ele ficou muito chateado por não ter escutado também, e, a partir daí acompanhou todas as ultrassonografias – exceto uma.

O medo de todo mundo, principalmente o meu, era que eu ganhasse muito peso, já que sua mamãe sempre foi gordinha. Sua avó Cely quando engravidou de mim teve diabetes gestacional – por isso nasci com 4,550 kg – e nunca mais se livrou da doença. Mas, consciente disso, elaborei um plano de gestação bem regrado, com direito a caminhadas, alimentação equilibrada com acompanhamento de nutricionista (meu organismo rejeitou alguns alimentos) e hidroterapia. Graças a isso, só engordei 5 kg e por isso, você e eu permanecemos cheias de saúde.
A ansiedade para a descoberta do sexo era grande e foram três ultrassonografias sem uma resposta certa, só uma suspeita de que seria uma menininha. O papai sempre dizia que só sabia “fazer homens”, já que você tem dois irmãos mais velhos que são homens, e que não seria diferente dessa vez. E você sempre com as perninhas cruzadas, parecia querer fazer mistério. E foi no único dia em que fui sozinha fazer o exame, já que o papai tinha uma reunião na mesma data, que você perdeu a timidez e se revelou para mim, a minha menininha. No fundo eu sempre sentia que seria mãe de menina, alguma coisa me dizia isso.
Quando cheguei em casa e dei a notícia, seu pai ficou meio sem reação, ia ser também um mundo totalmente novo para ele, não só pelo sexo, mas uma realidade totalmente diferente, já que você e seu irmãos tem mais de 20 anos de diferença.
A família e os amigos ficaram todos empolgados e os paparicos começaram cedo. Impressionante como as grávidas são bajuladas, eu nunca imaginei que seria tanto. E as menininhas tendem a derreter ainda mais o coração das pessoas, é um tal de roupinhas, de lacinhos, mantinhas, uma infinidade de opções, não sei como não falimos nesse período.
Eu fiquei enlouquecida, queria todas as novidades, montar um quartinho perfeito com tudo o que temos direito. O tema escolhido para a decoração foi de Matrioshkas, aquelas bonequinhas Russas que representam a maternidade e que a sua avó tanto gostava. 


Continua...

quinta-feira, 2 de julho de 2020

A DESCOBERTA

Como para todo filho planejado, o primeiro passo é procurar um médico, óbvio. E assim o fizemos: todos os exames necessários, recomendações e um ponto importante: eu tomava anticoncepcional desde muito cedo, sempre tive ovário policístico, não poderia esperar que fosse rápido. Isso foi em dezembro de 2013. Conforme recomendação, tomei 3 meses de ácido fólico combinado com outro método contraceptivo, só depois poderia “começar pra valer”. Só que, como somos hoteleiros e estava próxima a Copa do Mundo no Brasil, precisamos tomar algumas vacinas para poder nos preparar para a vinda de tantos estrangeiros. Com isso, tivemos que esperar mais três meses. Sendo assim, em junho de 2014 começamos de verdade as tentativas. Passada a Copa do Mundo, tirei alguns dias de férias e fui até São Paulo pra pegar minha sobrinha e seguir para Porto Alegre para finalmente conhecer meus sobrinhos gêmeos, Murilo e Miguel, que, naquela época, estavam com um pouco mais de um ano de vida. Foi um descanso tão bom após um período tão desafiador profissionalmente para a sua mamãe. Só não entendia como é que eu podia sentir tanto sono. Não conseguia parar de dormir. Eu devia estar mesmo exausta depois do furacão que foi a Copa...
Como tudo que é bom dura pouco, retornei pra São Paulo pra deixar sua prima mais velha, a Letícia. De lá retornei pra casa e no dia seguinte, a trabalhar.
Realmente havia algo estranho acontecendo, não era possível sentir tanto sono, eu me via durante várias vezes ao dia “pescando”. Passava o intervalo do almoço no estacionamento, roncando dentro do carro. Até que cheguei ao ponto de não aguentar mais e fazer o bendito teste de farmácia: a vontade era de fazer na mesma hora, mas me segurei e fui pra casa. Falei pro seu pai que iria fazer o teste no dia seguinte e não dormi a noite toda de tanta ansiedade.
Acordei muito antes do horário devido e fui direto pro banheiro. Alguns segundos depois, as duas listras me diziam claramente: SUA VIDA NUNCA MAIS SERÁ A MESMA. Meu coração acelerou, minhas mãos tremiam, achei que ia ter um troço. Chamei o seu pai, mal consegui pronunciar: “Parece que você vai mesmo ser papai de novo”. Com uma reação muito menos empolgada que a minha ele murmurou da cama “Nossa, que legal”. Depois que ele acordou de verdade, e que o horário era aceitável para se ligar para alguém, entramos em contato com minha médica que na hora colocou um pedido de exame de sangue para um resultado comprovatório. Extremamente ansiosos, fui diretamente para o laboratório e logo depois fui trabalhar. Peguei o resultado do exame voltando para casa e, na nossa cama, junto ao seu pai, confirmamos: Você estava a caminho! Mil pensamentos, alguns medos, mas muita alegria! E acho que aí a ficha do seu pai caiu de verdade.
               

FALANDO DE SENTIMENTOS

       Desde que passou o seu último aniversário no dia 14/04, senti que você andava meio relutante em ir para a escola: reclamando de acord...