Minha primeira postagem desse ano poderia ter vindo antes, com reflexões mais profundas e sensação de esperança. Mas, vendo que a pandemia atingiu a segunda onda de uma forma ainda mais devastadora e o tanto que as pessoas não estão nem aí pra isso, indo pra baladas, festas, praias lotadas, só me faz ficar ainda mais desanimada. O fato da vacina ter sido disponibilizada beeeem lentamente não dá nem pra animar, ainda mais no meio da disputa política envolvida. Enfim, decidi reaparecer quando acontecesse algo que fosse bom.
E foi aí que quebrei meu dedo...rs. Calma, tem um lado bom
nisso.
Eu sempre fui uma criança muito moleca: bagunceira, briguenta
e agitada, vivia ralada e sempre ralava alguém, mas, inacreditavelmente, nunca havia quebrado um osso.
O mais próximo que cheguei disso foi deslocando o dedo da mão por querer andar
de bicicleta sem segurar no guidão. Foi um episódio bem curioso, e meu pai foi quem me acompanhou nessa jornada inesquecível, o médico me distraiu e colocou o dedo no lugar sem anestesia. Me lembro da sensação até hoje.
E foi aí que há dois dias, de uma forma nada radical, eu quebrei o bendito dedinho do pé, aquele que vive sendo maltratado no pé da cama, do sofá, etc. Mas dessa vez ele não saiu ileso: estava cozinhando e fui na dispensa levar alguma coisa de volta que errei o cálculo pra entrar. Resultado: acertei a quina da parede com toda força, ouvi um "crec" e já tive a certeza que tinha dado algo bem errado. A dor foi surreal, a vista chegou a escurecer. Eu fiquei com vontade de sair correndo arrancando os cabelos, mas ver a sua reação me fez engolir o choro e segurar a onda.
E aí que vem a “parte boa” disso: a sua reação. Ver a preocupação no seu olhar, você tentando me acalmar, me pegando pela mão para me “ajudar” a ir pro sofá. Ficou sem saber o que fazer, trouxe água, fez carinho, até uma maçã trouxe kkk
Quando vi que não havia sido somente uma pancada – meu dedo
ficou torto – rapidamente começamos a nos preparar para ir para o hospital.
Você nunca se arrumou tão rápido, eu ainda estava pegando todas as tralhas para
sair quando olhei na janela e vi que você estava na cadeirinha do carro, até com o cinto
colocado. Em dias normais você jamais seria a primeira a entrar, costuma demorar uma eternidade. O
tempo todo me perguntando se eu estava bem, se estava doendo. A fofura atingiu
o ápice quando você, no caminho, me falou “mãe, olha como a vida é linda, o dia
é lindo”. Senti um amor tão grande naquelas palavras, como se dissesse para que
eu não prestasse atenção na dor que estava sentindo, que o mundo e a vida
continuavam lindos. Seu olharzinho preocupado no hospital, sempre perguntando
se eu estava bem, ficando do meu lado, foi tão revigorante! Mesmo doendo pra
caramba, a anestesia, a recolocação do osso no lugar, eu só conseguir sentir
alegria.
Eu espero que você continue assim, sempre pronta pra cuidar
de mim, já que uma hora os papéis vão se inverter, né? Me senti acolhida por
você, tão pequenininha, se comportando como minha mamãe, querendo me dar colo.
Eu infelizmente não pude “dar colo” para meus pais quando
eles mais precisaram de mim. Porém, estava distante, mas meu coração estava lá com eles.
Não sei o que o futuro nos reserva, não sei se vai estar fisicamente perto de
mim quando eu precisar, mas só de ter a sua preocupação e cuidado, mesmo que
distante, já me dá força pra superar.
Obrigada, filha, por me trazer felicidade até mesmo em um
momento de dor intensa.