segunda-feira, 13 de julho de 2020

SUA CHEGADA AO MUNDO


       Um dia antes de você chegar eu estava muito ansiosa, como não, né? Sua Dinda/Tia Bia havia chegado há alguns dias e me ajudou a segurar a onda. Fomos juntas ao salão para fazer as unhas e arrumar o cabelo. Chegamos em casa e fomos conferir a mala da maternidade pela milionésima vez, estava tudo certo, nada foi esquecido: Roupinhas, documentos, brinquinhos, mantinhas, tudo pronto pra você. Fui deitar porque sabia que dormir eu não ia mesmo.
Levantei da cama umas 5h para tomar um banho e me arrumar, já que tinha que estar no hospital às 7h para iniciar a internação. Chegamos lá, o papai um pouco mais atrapalhado do que o normal, trocamos o andar, mas logo nos encontramos. Entreguei toda papelada para a recepcionista e aguardei. Eu não estava nervosa ou com medo, estava ansiosa pra te ver.
Seu papai desde o começo da gestação disse que não iria assistir o parto, pois não tinha a menor condição psicológica, e que provavelmente desmaiaria, dando mais trabalho. Sendo assim, a Dinda fez as honras e seguiu para a missão de ser a primeira pessoa a família a te ver chegando ao mundo. Seguimos – eu e ela – para o centro cirúrgico e começamos a nos vestir com aquela parafernália toda. Seu pai seguiu para a sala de espera acompanhado de um monte de malas... Logo em seguida uma querida amiga, a Shirley, chegou para ficar com ele e segurar caso desmaiasse.
Minha irmã ficou aguardando em uma antessala enquanto eu ia para o centro cirúrgico. Nesse momento, com aquela camisola rosa, touca na cabeça e uma meia descartável, me vi nervosa: aquele monte de salas (umas 7), médicos transitando parecendo uns ET´s com aquelas roupas, choro de criança, grito de mãe, risos, conversas aleatórias...Fiquei perdida, me perguntando, o que faço agora? Até que uma enfermeira veio com um sorriso, talvez percebendo a minha cara de perdida, e me falou para aguardar um pouquinho que logo liberariam a minha sala. Sentei em um banco onde já estava uma moça também com olhar assustado. Nem lembro direito sobre o que conversamos, mas eu não consigo sentar perto de alguém sem puxar assunto, talvez se tivesse um cartão de visitas eu já teria entregue. Mas provavelmente foi sobre o sexo dos bebês, nomes, etc.
Não demorou muito e ela foi chamada, ficando eu lá mais uma vez sozinha. Acho que passou uns 10 minutos e uma outra enfermeira foi me avisar que minha sala foi ocupada por outro médico que teve que atender um parto de emergência. Eu só conseguia me preocupar com o seu pai lá fora que deveria estar agoniado. Pedi para que o avisassem, se possível. A enfermeira abriu uma porta e ele apareceu em uma fresta com aqueles dois olhos verdes esbugalhados perguntando sem dizer nada: “Cadê ela?”. Nem se deu conta que eu não conseguiria estar em pé se já tivesse realmente parido.
Mais calma por ter avisado seu pai, tornei a sentar e pensar em coisas boas, no seu rostinho, na alegria de te pegar no colo, amamentar, aquela coisa de comercial de margarina. Por hora funcionou até que minha médica me chamou e repetiu o que a enfermeira havia dito, mas que já estavam preparando a minha sala.
Finalmente fui chamada e senti minhas pernas gelarem: Era agora.
Uma enfermeira de sorriso largo me recebeu na sala: “Bem vinda, Heloisa”. Gostei dela na hora, me acalmou. Uma outra igualmente simpática também chegou e começaram e me preparar, explicando cada coisa que faziam. O anestesista também chegou e começaram a conversar alegremente, contando piadas. Acho que fazem isso de propósito para nos acalmar. Se for, já aviso que adiantou. Me virou de lado, explicou que iria enfiar uma agulha na minha coluna (delicadamente, claro) e até que fiquei bem. Ele me espetou três vezes até acertar e só fiquei sabendo disso depois que ele comentou que não foi tão fácil. Enfim, para mim foi tranquilo e logo estava totalmente amortecida da cintura pra baixo. Logo a Dinda entrou, ficou ao meu lado, onde a enfermeira havia indicado, e trocamos algumas palavras. O ambiente estava realmente tranquilo, uma energia boa e aquilo me acalmou muito. Por fim, a Dra. Fabíola chegou com aquela voz calma e aquele humor leve e começou a cirurgia. Me lembro de sentir náuseas e o anestesista colocar um pano no meu ombro e dizer: “qualquer coisa vomita aí”. Ainda bem que não precisei, não seria legal que a primeira foto da Maria fosse emoldurada com vômito. Foi tudo muito rápido, mas me lembro de um momento de tensão quando ele pediu licença à minha irmã e “forçou” a saída na da Maria parte de cima da minha barriga. Sei que esse não é o jeito mais natural de uma criança vir ao mundo, mas o importante é que você veio cheia de saúde e eu também estava bem. Lembro de ouvir a enfermeira falar “parece bebê de novela, tão limpinha” e achei graça naquilo.

                                *eu, minha irmã e minha bonequinha de novela

Ouvir seu choro encheu meu coração de alegria, um momento tão lindo, e quando te vi, foi tão rápido, mas foi uma mistura de alívio e amor difícil de explicar.
Feitos todos os procedimentos, você foi levada para o berçário e eu, depois de suturada, claro, fui para a sala de repouso. Minha irmã foi se juntar ao papai ansioso e a minha amiga Shirley para esperar para se conhecerem.
Fiquei mais tempo do que gostaria na sala de recuperação, completamente sozinha. Não tinha notícias, aí descobri que um turno havia saído para o almoço e outro estava no apoio no Centro Cirúrgico porque aquele 14 de abril de 2015 estava bem agitado. Maria não ia vir ao mundo em um dia monótono, bem a cara dela fazer isso.

Continua...

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