domingo, 21 de agosto de 2022

FORÇA

    Todos os anos faço um check up, me reviro do avesso para saber se está tudo bem. Os resultados sempre são parecidos, com as mesmas recomendações: emagrecer, praticar exercícios, comer melhor, etc. Todas as coisas que sei que não priorizo.
    Nesse ano, que foi bem tumultuado com o incidente do seu pai rompendo o tendão, fui fazer o checkup em junho - normalmente faço em março. Mas, antes tarde do que nunca, comecei a saga: colhi o sangue, fiz a mamografia e fui para a sala de ultrassom.
    A profissional que me atendeu começou passando o equipamento por todos meus orgãos até chegar nas mamas e, sem nenhuma cerimônia, me dizer: "Opa, tem um nódulo aí". Eu congelei, não sabia nem mais o que ela estava falando. A sala, que ja era fria, se transformou em um iglu, eu só sabia tremer. Lembro dela fazendo algumas perguntas, nem sei direito o que respondi. Ela finalizou com "vou repetir a sua mamografia mas independente que qualquer coisa já vou pedir uma biópsia", falando detalhadamente do procedimento, como seria feito e tudo mais. Fiquei na sala de espera aguardando me chamarem para repetir os exames totalmente tremula, a cabeça doía de tanto nervoso. Quando finalmente me chamaram e eu fiz o que tinha que ser feito, eu só queria sair dali chorando e sumir. Era cedo e eu iria diretamente para meu trabalho, mas não tinha condições psicológicas. Liguei para minha gerente e expliquei a situação, e ela, compreensiva - ainda bem - me liberou para me acalmar em casa. Como seu pai estava em casa se recuperando da cirurgia, me acolheu no meio de todo aquele caos e aos poucos fui me acalmando. Meu instinto prático acordou e eu já comecei a buscar os exames anteriores para enviar para a médica comparar antes de emitir o laudo.
    Mas não teve como evitar daquela nuvem negra dos pensamentos negativos começarem a pairar na nossa cabeça, e eu fui sendo tomada aos poucos por um sentimento de tristeza muito grande. De repente eu só conseguia me ver em um leito de hospital, morrendo . PORQUE SOMOS ASSIM???
    Então, a solução que eu vi foi de agilizar ao máximo o resultado, e , enquanto esperava, tentar seguir minha vida. 
    Mas não teve como não perceberem que eu não estava na minha normalidade, e acabei me abrindo com algumas colegas no trabalho, que me acolheram e apoiaram com todo carinho. Duas delas na hora me indicaram um especialista que poderia me instruir melhor no que fazer e talvez me indicar algum outro exame menos invasivo que a biópsia. Foi por Deus que liguei naquele médico e consegui um encaixe no mesmo dia. Fui com os laudos que eu tinha , esperei quase 3 horas para ser atendida, mas finalmente consegui. Ele olhou atentamente a ultrassonografia e o laudo da mamografia (que era o que eu tinha na hora) e ficou visivelmente contrariado com a atitude da profissional que me atendeu no exame, que ele não havia observado nada tão grave que justificasse uma biopsia logo de cara. Me tranquilizou e falou para que eu fizesse uma ressonancia, que é um exame mais preciso e facilitaria o diagnostico final dele. 
    Aquilo já dissipou uns 70% na nuvem negra e eu consegui me sentir mais positiva diante da situação, mas já saí dali ligando para agendar a ressonancia.
    O dia do exame chegou e , é claro, fui fazer esse exame em outra clínica, que já estava mais habituada e é referência aqui em Cuiabá. Apesar do sofrimento para aplicar o contraste, eu me sentia positiva e confiante, até mesmo a posição desconfortável e o fato do exame ser demorado e claustrofóbico não me abalaram. Pedi para ouvir Adele e consegui até cochilar. 
    Em poucos dias, peguei o resultado do exame e levei para o especialista que, finalmente confirmou o diagnóstico: nódulo benigno, totalmente normal.
    Depois de passado todo susto que esses 15 dias me causaram, eu fui rever a minha postura diante do medo. Não quis transparecer minha aflição, não chorei (mesmo querendo quando fiz o exame). E será que isso é bom? Cheguei a conclusão que não. Quem disse que eu preciso ser forte, que não posso mostrar vulnerabilidade? E isso me fez lembrar de um dia que você me disse que nunca tinha me visto chorar. Achei preocupante, porque eu não posso deixar meus sentimentos transbordarem? 
    Não quero que isso seja um exemplo negativo para você, pelo contrário, eu sempre te digo que tá tudo bem ficar triste diante de alguma situação, de chorar, nada é eterno, os sentimentos vão mudando, e a gente precisa validar esses de tristeza também.
    Eu também deveria ter aberto meu coração a todas as pessoas que eu amo e que sei que me amam, ao invés de pensar em poupá-las até ter certeza de tudo, bem ou mal. Agora penso que quando as pessoas que me amam sabem das minhas aflições, elas podem orar, rezar, vibrar coisas boas para mim, e eu recebo isso de todo coração, faz parte da cura, do acalento que todos nós precisamos.       Agora também pedirei ajuda e abrirei meu coração, ajuda a dividir o peso da preocupação, fica mais leve.
  E quando eu quiser chorar, vou deixar as emoções transbordarem, porque também é uma demonstração de confiança.Chorar lava a alma.
    É nessas horas de afição que a gente aprende a valorizar o que realmente tem valor.
    Seu pai segurou minha mão e me ajudou, sempre sereno e me tranquilizando, aquilo me sustentou e sinto que sempre vai me sustentar.
    E, com mais essa lição (e que susto), a gente cresce mais, evolui mais e se torna melhor.
     E, assim seguimos, de mãos dadas para aumentar a força e equilíbrio do caminhar...

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